quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Entrevista com Adriano de Souza, o Mineirinho.

Setembro/2008

Apesar de não ser mineiro, ele possui esse apelido pelo jeito quieto de ir papando as baterias aos poucos e passando despercebido. No entanto tornou-se este atleta fantástico que é o melhor brasileiro no WCT e apontado por especialistas e fãs como o primeiro surfista brasileiro com potencial real de ser campeão do Circuito Mundial, e em breve.

A seguir Mineirinho fala de coisas importantes, tais como: ser uma pessoa extremamente competitiva, sentir o feeling do surf mesmo depois de tantas competições e é claro, o que ele acha dessa história de ser “ o cara”.

Mineiro entrevista

WCT:

“ Eu sei as coisas que me faltam para ser campeão mundial. Eu não vou dizer aqui quais são, mas eu sei. Esse é o segredo. Quem tá ligado no WCT sabe do que eu estou falando, que existem coisas essenciais para ser um campeão, e eu to correndo atrás disso, pra quem sabe ser o primeiro de uma geração que tá vindo, muito forte. Eu sei que esse é o meu caminho e é isso que eu quero.”

2008:

“ Tá sendo um ano incrível. Eu consegui mostrar o que eu queria, em todos os eventos e fiz tudo que eu sempre sonhei. Estar entre os Top 5, hoje eu estou nesta listagem mais ainda tem dois eventos, eu tenho que correr atrás se eu quiser manter isso. Eu vou aproveitar esse evento em casa e não vou deixar me tirarem isso, de ser um Top 5 por que é uma coisa que eu sempre quis na minha vida, que eu sempre sonhei. Ano passado eu tava em 28º, brigando ali nas últimas posições pra eu me manter, e hoje eu estou brigando pelas primeiras,isso em questão de meses,então é difícil me adaptar a isso. Mas eu estou tendo um apoio muito forte do meu patrocinador, do meu manager, muitas pessoas que estão me dando suporte e que acreditam e estão felizes com o meu trabalho. Tô muito feliz com esse ano e acredito que o ano que vem vai ser melhor ainda!”, fala Mineiro bastante esperançosos quanto aos resultados para o WCT 2009.

Top 5:

“ Pra mim é até difícil de entender, é muito bom..As coisas na minha carreira sempre aconteceram muito cedo...Fui campeão Mundial Pró Junior muito cedo,fui campeão do WQS muito cedo...

Eu entrei no WCT muito cedo e por isso eu não esperava essa posição assim,tão cedo. Mas eu quero é me divertir, e aproveitar muito esse momento de hoje. Não quero mais perder nenhuma oportunidade, eu já perdi algumas oportunidades, nos primeiros anos de WCT, então esse ano eu estou focando muito isso, não perder as oportunidades e aproveitar tudo o que vier!”

Mudança para os EUA:

“Eu tomei uma decisão ano passado, de me mudar para os Estados Unidos, mas é uma questão muito difícil. É um projeto de um atleta brasileiro morando fora, isso ainda não tinha acontecido e eu estou tomando essa iniciativa, de ter uma melhor qualidade de vida, viajar menos, por que o circuito cansa muito. Então se eu estiver em Los Angeles, por exemplo, todos os aviões saem de lá, então eu vou viajar menos. E não só pela qualidade de vida e pelas viagens, mas eu quero me aproximar da Língua Inglesa, falar como um americano ou um australiano, que predominam no circuito mundial, é a língua mundial. Então pra mim vai ser muito bom, ter essa nova experiência. E também pra me focar, só pensar em surf. Aqui tem família, amigos pra ver, contas pra pagar...Lá não. É só surf, surf e WCT.”

Kelly Slater e Mick Fanning:

“ Me espelho no Kelly Slater, não só como atleta que ele é, mas fora d'água também ele é um cara totalmente...(pausa) perfeito...Eu não vou falar que ele é um Deus e tal, mas ele é um cara totalmente perfeito, que passa uma imagem totalmente clássica, totalmente pura do surf e isso é muito legal. O jeito como ele se porta no circuito mundial, o jeito que ele compete, o jeito como ele sai da água é um exemplo a ser seguido, ele é o cara. O Fanning pra mim é determinação, por que não é fácil vencer o Kelly Slater. Então ele demonstrou pra todos que basta ter determinação pra conquistar o título,nada é impossível e foi isso que o Mick Fanning mostrou para o mundo.”

 

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Free-Surf X Competições:

“ A competição tá no meu sangue. Eu vejo um campeonato, eu sou competidor, então eu quero competir e ganhar, eu quero entrar pra ganhar. Que foi o que aconteceu aqui. Eu quis aproveitar o evento, ainda mais aqui, no Arpoador, onde tudo começou aqui no Brasil, os primeiros caras que surfaram, surfaram essas ondas, nessa praia, então nada melhor que um evento do meu patrocinador aqui. Agora o free-surf pra mim, é aquela coisa de estar dentro d'água. Quando eu estou na água eu esqueço de tudo,eu esqueço do mundo. O contato que eu tenho com o oceano é sem palavras, é até difícil de descrever. Quando eu entro no mar e pego a prancha eu me sinto uma pessoa melhor, uma pessoa mais contente, não sei por quê e nem como descrever isso.”

Surf no Brasil:

“ O surf no Brasil é muito novo. O Gouveia que abriu as portas de tudo,que elevou o surf do Brasil ao nível mundial e eu fico até triste de ver que as pessoas não reconhecem nomes como o Fabinho, como o Peterson, como o Guilherme, que foram pessoas que abriram as portas pra essa geração de hoje, que sou eu, o Hizunomê...Nos EUA, na Austrália o surf tem um reconhecimento muito maior. No Brasil esse reconhecimento está crescendo, eu vejo essa evolução. Muitas marcas internacionais estão investindo nos atletas de base, nessa molecada...e tem que acreditar nesta formação por quê daqui que vem o campeão”

Nova Geração:

“ O que eu tento deixar pra essa galera que tá vindo aí, e que é muito forte é treino, muito treino e surf. Pra mim as coisas foram muito difíceis, então todas as oportunidades que eu tive eu segurei com muita força. E eu nunca desacreditei, sempre trabalhei com muita força...e tudo começou muito cedo, hoje eu sou muito maduro em relação a isso. O que eu quero passar é, profissionalismo é tudo, e é o único caminho para se chegar a um Kelly Slater. O que eu quero passar para essa molecada é isso.”

Carreira:

“ O melhor da minha carreira é que eu nunca passei por cima de ninguém. Consegui tudo com o meu próprio esforço e sem deixar a minha felicidade de lado.”

Surf:

“ Felicidade máxima. Paz, poder, saúde e transpiração.”

Trabalho:

“ Nunca trabalhei. Meu irmão é militar e sempre falava pra mim...ó, tô trabalhando pra você surfar, hein...(risos). E eu sempre aproveitei isso.”

Backside ou Frontside:

“ Tanto faz. Se eu tiver no mar tá bom!”

 

 

 

Texto: Thaís Mureb.- WQS Arpoador/ 2008

quarta-feira, 4 de março de 2009

Alejo Muniz: a evolução do surf brasileiro.

 

Alejo Muniz escolheu o Brasil. Alejo Muniz escolheu o surf. E escolheu a evolução. Das ondas, de seu surf e de si mesmo.

“ Quando eu tinha 1 ano de idade meu pai me trouxe para o Brasil, para viver perto da Praia e não num lugar tão frio. Ele já conhecia o Brasil e trouxe a família toda pra Bombinhas.

Alejo é considerado uma das grandes promessas do surf nova geração. Mistura estilo e agressividade, capazes de vencer um Top 10 numa bateria “homem-a-homem” do Circuito Mundial.

Numa época de Mineirinho Top 10, o Brasil se impõe como uma das grandes forças do surf mundial, com diversos atletas disputando campeonatos internacionais e se destacando cada vez mais. Bons resultados aparecem em diversas categorias, desde feminino até mirim, passando pelas de base. O time brasileiro vem com tudo.

E Alejo é a cara do surf nacional. Alejo Muniz é a evolução.

“A primeira vez que eu surfei eu tinha uns 5 anos, foi na Praia de 4 Ilhas em Bombinhas. Eu lembro até que o meu pai me empurrou na primeira onda e eu já fiquei em pé! Fui indo com a mão na borda, reto até o final... Quando eu sai da água, lembro que fui falar com a minha mãe... mãe! Você viu que eu fiquei em pé na onda? E ela... é, mas eu acho que os surfistas tiram as duas mãos da prancha... (risos). Foi aí que tudo começou.”

Começou cedo, ficou em pé de primeira e tudo aconteceu muito rápido. Em maio deste ano, Alejo foi campeão do Mundial da ISA, na Categoria Junior, em Hosegoor, na França, surfando contra as equipes das principais potências do surf internacional. Vitória que lhe rendeu um convite para disputar a etapa brasileira do ASP Dream World Tour, realizado em Imbituba.

“Foi o melhor ano da minha carreira até hoje. Consegui um título mundial na França, venci uma etapa do Mundial Pró Junior aqui no Brasil, fiquei em segundo no Ranking sul-americano... agora ter sido convidado pro WCT e ainda consegui vencer um Top 10! É o melhor ano da minha carreira. É o melhor ano da minha vida!”

O surf de Alejo Muniz é de gente grande. Fica devendo aos Tops só pela pouca experiência. Mas Alejo viaja o mundo competindo e surfando as melhores ondas, que aprimoram e elevam cada vez mais o nível do seu surf. Começou a surfar numa praia do sul do Brasil, e hoje quebras nos picos dos sonhos de qualquer surfista. Mas guarda as lembranças da primeira prancha.

“Meu pai achou uma prancha na rua, um tocão velho...(risos). Ele deu para um shaper, o Erick, um shaper lá de Bombinhas, foi até a primeira prancha que o cara fez. Deste tocão ele fez uma pranchinha pequenininha pra mim, laminou, fez um desenho de uma águia, com uns fogos... Foi minha primeira prancha, eu tenho ela guardada até hoje!”

As pranchas evoluíram,o surf sofreu muitas transformações nas últimas décadas. Das monoquilhas e hot-dogs aos foguetinhos, os surfistas vivem a evolução em cada busca por um novo aéreo, uma manobra mais radical. Discute-se o futuro do surf, como esporte olímpico, passando por piscinas e fundos artificiais.

E Alejo é o futuro. Muita pressão para um menino? Não para ele.

“ Tem a pressão, com certeza, né... mas tem um lado bom que é o que faz você querer evoluir pra mostrar que tu pode... que vai conseguir ser tudo aquilo que as pessoas estão falando. Eu escuto sempre duas músicas antes das baterias. Uma é dos Aliados 13, que fala sobre auto-confiança... que você pode, que você vai conseguir, pra não ter medo de nada. E eu gosto muito de Linking Park também, que instiga pra surfar demais.”

Se espelha nos grandes, para que grande também seja a sua projeção.

“Eu gosto bastante do Kelly,né... com certeza. Mas meu surfista favorito é o Taj. No Brasil admiro bastante o Neco Padaratz e o Thiago Pereira. O pico que eu mais gosto é 4 Ilhas. Pra mim não existe onda melhor que aquela no mundo todo. Virei profissional no começo do ano passado e comecei a competir só Pró Jr e WQS, mas este ano tenho viajado pra surfar mais do que competido.”

E busca sempre o aprimoramento da sua condição física, da sua técnica e do seu surf.

“Quando eu estou no Brasil, faço sempre pilates e musculação... alongamento também. E surf, sempre, né... pra melhorar o meu rendimento. Eu me baseio nisso. Se eu não estou surfando, gosto muito de ficar em casa, com meus pais. Eu viajo muito, então gosto de curtir com minha família e meus amigos. Quando eu era menorzinho eu andava de skate, mas depois que eu me machuquei eu parei.”

Mas não parou de surfar. Começou como uma brincadeira. Virou profissão. E da profissão, ele faz a sua vida. E a busca por aperfeiçoamento, hoje leva Alejo a lugares mais altos.

“O surf começa sempre como uma brincadeira, né... depois que vem esse lado mais profissional. Mas eu não conseguiria mais abandonar essa vida de surfista. Não conseguiria parar numa escola, estudar, para me formar em alguma coisa... O surf é uma cultura diferente, é uma galera diferente dentro do mundo. É muito legal fazer parte disso. Só pelo jeito da galera falar, as nossas gírias... E o surf está crescendo, hoje é um dos esportes mais praticados do mundo e é bem legal fazer parte dessa evolução.”

Os pranchas evoluíram, o surf se transformou, mas a vibe continua a mesma. Só quem surfa que sabe, só quem surfa que sente. E isto nunca vai mudar.