terça-feira, 25 de novembro de 2008

Bruninho Santos: De Itacoá pro mundo.

Bruno Santos é o surfista da moda. Não por opção sua, nem por seu estilo.

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Enquanto a moda são as raves, Bruninho prefere o reggae. Se todo mundo busca o Hawaii, ele se entoca em Itacoatiara. A mania é digital, ele gosta de livros. Se todos querem dar aéreos, Bruninho Santos prefere os tubos. Clássico.

Saiu em todas as capas de revistas especializadas. Foi nos melhores programas, deu muitas entrevistas. Recebeu o apelido de Mr. Teahupoo. Mas para ele, nada mudou.

Continua sendo o mesmo menino simples de Itacoá. Casado, pai de Sophia de 2 anos e seis meses (já viu que a pequena é skateboard, né Bruninho!), esse niteroiense tube-rider não liga para o que está ou não na moda.

Ele só quer mesmo é ouvir reggae e surfar.

O ano de 2008 entrou para a história do surf brasileiro. E com exclusividade, Bruninho conta como tudo aconteceu:

“No começo de 2008 eu já tinha recebido um prêmio super legal, por ter surfado a maior onda do Brasil de 2007, mas eu comecei o ano meio devagar nas competições. Na primeira etapa do WQS em Fernando de Noronha que eu costumo ir bem, perdi logo no comecinho, depois fui pra Austrália, uma outra etapa que eu costumo ir bem, mas também não consegui um bom resultado.”

Mas teve Teahupoo. E a história todo mundo já conhece. Mas é incrível perceber, numa conversa, como uma pessoa pode ser tão humilde a ponto de encarar uma conquista com essas proporções de uma maneira tão natural. Bruno Santos é um predestinado.

“Logo depois, em maio, veio o Tahiti. Em 2007 eu já tinha participado e tinha passado nas triagens, mas não tinha ido muito bem no main-event (evento principal). Então eu me classifiquei de novo esse ano através das triagens, eu fui bem antes para treinar, pra surfar bem... Acabei ganhando a vaga. As triagens rolaram num mar perfeito, épico. Acabou dando tudo certo e eu saí de lá vencedor.”

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Parece até que foi fácil. Mas por trás de toda vitória tem uma história. E essa não foi tão simples assim.

“Foi uma vitória bem complicada. Tiveram várias pedras no meu caminho...(risos). Eu fui com poucas pranchas, levei só quatro e quebrei quase todas antes do início da competição. Nas triagens eu só tinha duas e quando chegou o evento principal eu quebrei a única 6'1 e fiquei só com uma 6'3. No último dia da competição o mar abaixou bastante e eu acabei pegando uma prancha emprestada que caiu que nem uma luva! (risos). Era uma 5'9, bem pequenininha. E também me machuquei, né... tomei quinze pontos.”

Alguns desistiriam. Outros desanimariam ou se deixariam abalar. Mas Bruninho Santos nem percebeu. One good thing about surf, when it hits you feel no pain.

“Na verdade eu nem pensei nisso tudo, eu queria surfar. Eu tava surfando, curtindo e quando eu vi eu já estava nas finais, na semi-final e fui campeão. Mas eu nem dei muita importância para isso. Não me abalou muito ter ficado sem prancha, ter me machucado, por que eu sabia que dava pra chegar... Foi um corte profundo, mas apesar disso dava pra surfar tranqüilamente. E a prancha... não ia fazer tanta diferença assim...por que é Teahupoo...e eu estou acostumado a entubar. Pra mim a prancha faz muito mais diferença num mar assim, tipo está hoje aqui em Imbituba, a onda mais cheia... do que lá em Teahupoo. Lá é só você botar no corte que já está no tubo, a prancha não interfere tanto assim. Então eu não deixei nada me abalar.”

Muito fácil, né?!

Depois de Teahupoo muita coisa mudou. Mas ele mantém seu foco e busca se firmar na elite do surf mundial, onde é o seu lugar devido.

“O reconhecimento foi muito grande, mas eu continuei levando... Tem as competições no Brasil, eu tenho feito bons resultados. Disputei o título do Super Surf até a última etapa, mesmo sem ter participado de uma das etapas, venci uma do Brasil Tour... Então, apesar de ter sido um bom resultado eu sei que eu tenho muito que correr atrás ainda. Eu sou novo, tenho 25 anos, quero tentar entrar, de verdade, para a elite e vou dar um gás nisso nos próximos três anos.”

Aprendeu a surfar num canal, o Canal de Itaipu, só com 11 anos de idade. Mas tirou o atraso fazendo um intensivo nas bombas de Itacoatiara, que são famosas não só por suas morras gigantes mas também por sua formação, que não perdoa os que se arriscam.

Bruno Santos tem um dom. De fabricar tubos. Quando ele entra no mar, as ondas ficam até mais ocas em reverência ao estilo do seu surf. Algo a ser admirado e respeitado. Elevou o nome do Brasil a lugares nunca antes alcançados. Alguns surfistas brasileiros já tinham obtido bons resultados no WCT. Poucos conseguiram ser campeões de etapas. Mas só Bruno Santos dominou Teahupoo. Estilo, coragem e tube-feeling.

Fala aí Bruninho, qual o macete:

“Acho que o fato de eu ter aprendido a surfar em Itacoatiara, mais o fato de eu estar sempre viajando, buscando esse tipo de onda...sempre fui pro Hawaii, sempre fui pra Indonésia. E também...(pausa). Eu já nasci um pouco com isso. (risos). Me sinto muito a vontade dentro de um tubo. Gosto de onda grande, sempre gostei. Então é uma mistura. São vários fatores, que acabam fazendo eu surfar bem esse tipo de onda.”

Todo mundo quer entubar igual a Bruninho Santos.. Eu, você e até mesmo os surfistas profissionais, que vivem admirando seu estilo tube-rider. Nas esquerdas, de frontside, ele é mestre.

Atleta da Rip Curl a vários anos ele fala um pouco da parceria de sucesso com a marca e das cobranças:

“Não rola aquela cobrança grande não. É lógico que os caras querem me ver no WCT e vão me dar todo suporte pra isso, mas nunca rolou uma pressão muito forte. Eu sei que o que eles mais querem é me ver lá dentro, mas eles sabem o quanto é difícil, são só 16 vagas, disputadas pelos melhores surfistas do mundo inteiro. Eles estão me dando todo o apoio. E eu vou continuar batalhando nos próximos anos pra conquistar minha vaguinha.”

Entre uma viagem e outra gosta bastante de ler. Leu os já clássicos do Dan Brown, Código da Vinci e Fortaleza Digital. Viagens, surf e livros. Combinação perfeita. Quem entende e gosta, sabe do que se trata.

“Eu gosto muito de aprender coisas novas e para isso nada melhor do que ler. Eu estou sempre lendo alguma coisa, podendo filtrar alguma coisa...Eu passo muito tempo dentro de avião, sempre viajando, e é um bom passatempo, eu estou sempre lendo. E até mesmo para abrir um pouco a mente, não ficar tão fechado só pensando em surf, surf, surf o dia inteiro... Até por que o surf de competição...(pausa), chega uma hora que ele acaba, né... e você tem que está preparado para o que está por vir.”

Cada frase de Bruno Santos impressiona mais. O que dizer de uma pessoa com estas atitudes? Qualquer definição não seria suficiente. Nem para a sua pessoa, nem para o seu caráter, nem para o seu surf.

Não existem palavras que definam alguém que ultrapassa o que há melhor.

De Niterói ele não herdou só o gosto pelos tubos de Itacoá. Como bom papa-goiaba que é, (essa é uma brincadeira dos cariocas com os que nascem do lado de lá da ponte) curte um reggaezinho de raiz e fala sobre a cena do reggae em Niterói. Para quem não sabe, a cidade é uma usina de talentos, fonte de várias bandas, que ele adora.

“O reggae é o som que eu mais curto, eu escuto reggae o dia inteiro. A galera toda da banda Naya estudava comigo, na minha sala, o Enzo, o Mumu. Conheço todo mundo do Canamaré, Bagabalô... é o som que eu curto. Rosa Amarela também, o Duka morava na minha rua. Eu curto bastante o reggae, não sou muito fã de música eletrônica, essas músicas... (risos). Estou sempre escutando reggae... antes das baterias, depois que eu saio da água... e eu gosto muito dessas bandinhas de Niterói. Prefiro muito mais ir num showzinho da galera do que ir em outros shows que às vezes chamam até mais atenção.”

Bruninho Santos é um menino que não gosta de chamar atenção. Passaria até despercebido. Não fosse o tamanho do seu surf.

“ Eu gosto de dar um rolé de skate, jogar um frescobol na praia, bater uma bola, mas nada a sério, não... Mas quando não tem onda eu estou sempre fazendo uma atividade.”

De sério, basta o surf apresentado, que a cada dia toma mais espaço na vida desse pequeno- gigante.

“ Começou como hobby, mas na verdade o surf é tudo hoje em dia. É minha fonte de renda, de felicidade... é a minha alegria! É tudo mesmo! Eu passo o ano inteiro surfando, o dia inteiro surfando... se eu ficar sem surfar... acho complicado.(risos). O surf me completa!”

E Bruno Santos, dentro de cada tubo, em cada onda, certamente completa o surf- e o torna muito mais bonito de ser admirado.

 

 

Entrevista concedida a Thaís Mureb, com exclusividade.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Wiggolly Dantas: um campeão em potencial, um exemplo a ser seguido.

Wiggolly Dantas: um campeão em potencial, um exemplo a ser seguido.

DSC01222 Wiggolly Dantas é um campeão. E não estou falando a respeito dos campeonatos que já venceu, como a última etapa do WQS, realizado em Itamambuca. Com apenas 18 anos, ele conseguiu vencer a dislexia, um problema de difícil diagnóstico e atualmente fala além do português, inglês, espanhol e francês. E não quer parar por aí.

Diferente da grande maioria dos surfistas, Guigui é um garoto muito centrado, que sabe que um surfista não é feito só de ondas. Sabe o que quer, aonde quer chegar e exatamente o que fazer para chegar lá.

Surfou pela primeira vez aos três anos de idade, levado pelo irmão. Ele conta como foi fechar um patrocínio com a Quicksilver, aos 9 anos de idade:

“ A primeira vez que eu fui surfar foi meu irmão que me levou, aqui em Itamambuca. Era uma prancha dele, maior, acho que era uma 6'1 ou 6'0, não lembro... eu tinha 3 anos. Consegui ficar em pé de primeira, era pequenininho e comecei a gostar. Eles passaram a me levar todo dia, meu irmão(o surfista Wellington Carrane), a minha irmã(a surfista Suellen Naraísa) e o meu pai, e eu ia surfar. Fiquei surfando direto até uns oito anos assim, e corri meu primeiro campeonato, aqui em Itamambuca. Fiquei em sétimo. E comecei a gostar de surfar para competir. Entrei no brasileiro amador, no Hang Loose... e fui competir os mundiais. Com 9 anos eu entrei na Quicksilver e estou com esse patrocínio vai fazer 10 anos.”

Para quem não sabe, a história é curiosa. Foi o surfista Renan Rocha, que “descobriu” o Guigui e que fez o famoso “quem indica”.

“ Eu tava surfando aqui em Itamambuca, o Renan veio falar comigo e pediu o meu currículo, que ia arrumar patrocínio pra mim. Uma semana depois ele voltou, com uns adesivos...ele tinha me dado só os adesivos e eu não acreditei...caramba, Quicksilver... a gente foi no carro pra pegar umas coisas, fiquei amarradão. O sonho de todo surfista é ter o patrocínio da Quicksilver.”

Guigui tem uma trajetória vitoriosa. Até os dezesseis anos corria campeonatos amadores e profissionais,quando foi tri-campeão brasileiro amador e penta campeão do Hang Loose Surf Atack. Virou profissional aos dezessete. Passou a disputar então mundiais, WQS e Pró Juniores. Foi Campeão Mundial King of the Gromitts, na França, campeão sul-americano Pró Junior, foi campeão sul-americano representando a equipe brasileira, campeão de duas etapas do WQS 6 estrelas,uma na Inglaterra, e a outra em casa, Itamambuca. E isso só em um ano.

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“ O ano está sendo bom. Eu estou surfando, fazendo alongamento, tava treinando boxe e jiu-jitsu... agora estou dando uma relaxada aqui em casa, mas vou começar a treinar pra ir pro Hawaii com força. Quero pegar umas ondas grandes, surfar bem, pegar tubos... se eu conseguir uma vaga pro WCT, quem sabe... não estou preocupado com isso. Mas eu vou focado do mesmo jeito.”

Ele ainda estava na disputa por uma vaga para ir ao Mundial Pró Junior, mas havia recebido a notícia que Jádson André havia sido o escolhido.

“ Eu estava na disputa por uma vaga, mas já fiquei sabendo que ele que vai... O critério de escolha seria o pró-júnior que estivesse com melhor pontuação no Ranking do WQS e ainda faltam duas etapas, no Hawaii. Mas algumas pessoas disseram que ia ser escolhido depois das etapas do Brasil, e outras disseram que não. Eu acho justo que seja depois do Hawaii, por que vai que eu mando bem lá, subo no Ranking e não posso mais disputar a vaga...”

Bastante consciente, Guigui é um surfista que se preocupa com a sua formação profissional e intelectual. Gosta de estudar línguas, faz intercâmbios para conhecer outras culturas e aprimorar os seus idiomas. Venceu a dislexia e mostrou que superação é fundamental para qualquer conquista. No esporte e na vida.

“ Tem muito tempo já que eu vou para a Austrália e fico estudando... vou fico quatro meses, fico em frente a Kirra... Aprimoro meu inglês, surfo, vejo os caras surfando, os WCTs que surfam lá... aprimorar o inglês, surfar, ver o jeito que os gringos estão surfando e tentar surfar igual, já fazem valer a pena a ida para a Austrália.”

Alguns surfistas se contentariam com muito menos, Guigui. Como só surfar, por exemplo.

“ Eu gosto muito de aprender outras línguas. Acho que por ser uma cultura diferente... isso que eu gosto. Em todo lugar que eu chego eu tento aprender um pouco, se é muito difícil eu não desisto, penso em aprender, em voltar no outro ano... e isso é muito bom.”

Garoto bastante caseiro, tive a oportunidade de conhecê-lo um pouco melhor e até participar da comemoração pelo título, regada a muito Red Bul, seu outro patrocinador.. A família é o seu esteio, é o que faz tudo funcionar. Irmãos e primos surfistas, pais bastante incentivadores, Guigui faz do seu lar e da Praia de Itamambuca o seu refúgio. O lugar onde descansa das viagens e repõe suas energias antes de outra jornada.

“ Eu gosto de ficar com meus amigos, ir ao cinema, jogar vídeo-game, playstation...um Counter Strike ou Kelly Salter... gosto de chegar aqui, surfar com os meus amigos, ficar com a minha família. Surfar no lugar onde eu aprendi a surfar, tem toda aquela vibe... pegar as melhores ondas... é isso o que eu mais gosto.”

Fala sobre o papel que o surf tem na sua vida, depois de 15 anos de convivência com esporte, sobre o seu estilo e em quais surfistas se inspira.

“ O surf é minha vida. Eu faço um free-surf com amor, com paixão... eu entro na água e esqueço de tudo... Eu só quero surfar...normal, relaxado, isso que é bom. Ainda mais na minha praia, o lugar onde eu moro, onde eu nasci... não tem preço que pague. Gosto de surfar bastante de backside, por que eu faço umas manobras mais radicais... eu faço radicais também de from, mas para campeonato, eu sempre tiro as maiores notas de back. Minhas manobras preferidas são os aéreos, os tubos e as batidas. Gosto muito do Andy e do Bruce Irons, Rob Machado, Patrick Bevan, Jeremy Flores, Mik Picon...”

Ele fala a respeito dos amigos a quem ele dedicou a ultima vitória, os dois já falecidos.

“ Eram dois amigos meus que moravam aqui, os dois surfavam de long... quando eu tinha uns 5, 6 anos eu conheci os dois e até os quinze a gente sempre estava junto. Só que infelizmente um foi... (pausa) é mataram ele... e o outro foi de diabetes. E para Itamambuca, era muito importante eles estarem aqui com a gente. Itamambuca, querendo ou não, sabe que eles faziam parte e ainda fazem parte do nome dessa cidade. Por isso que eu dediquei o título para os dois.”

Quando foi diagnosticado que ele tinha dislexia, mostrou-se que ele possuía 100% de aptidão para o esporte. E ele contornou todas as adversidades, aproveitando esta aptidão paro o surf, fazer boxe, jiu-jitsu, andar de skate, e etc...

“ Quando eu ia para escola era muito difícil de aprender, eu nunca queria ir, voltava pra casa... Eu até pensei em parar, em não ir mais pra escola, mas pensava... eu tenho que conseguir, não é assim, eu não posso desistir. Eu fui em São Paulo diagnosticar, e acabou mostrando que para esportes eu sou 100%, acabei me desenvolvendo mais para o esporte. Isso é bom por que eu gosto de fazer, eu gosto de treinar... boxe, jiu-jitsu... e acaba que não importa se você é bom ou não, você tem que fazer o que você gosta... é que nem andar de skate, gosto muito e às vezes corro também.”

Guigui é movido a sentimentos. Bons sentimentos. Sentimentos de amizade. Há dois anos ele escuta sempre a mesma música antes da bateria. Uma música que remete a bons momentos, vividos com bons amigos.

“ Há dois anos que eu escuto a mesma música antes das baterias. Sempre a mesma. É uma música do Eminem. Estava eu e todos os meu melhores amigos, que a gente fala que é uma família... São o Jeremy Flores, o Patrick Bevan, o Mik Picon e a Nicky Bevan...Ricardo Arona, eu o Zé Marcelo e o Jojó... estava todo mundo junto e teve uma festa, tava tocando essa música. Eu comecei a cantar e a gente começou a escutar essa música pelo Hawaii todo. Ficamos quatro meses, só tocando essa música, escutando essa música. E eu comecei a gostar e a competir só com ela... todas as baterias que eu escuto essa música eu entro instigado, penso na galera toda junta, toda aquela vibe... penso que irado!!!...vamos, vamos... e dou um gás... é animal!”

Wiggolly Dantas é assim. Um homem completo, mesmo ainda garoto. Um ser humano que busca a sua evolução. E a sua evolução é o surf. A evolução do surf nacional, que dentro de pouco tempo elevará o Brasil a novos parâmetros.

Parabéns Wiggolly. O país agradece.

DSC01246 Com a priminha....

 

 

Direto da casa do Rei de Itamambuca, muito bem recebida e com exclusividade para o Câmera Surf, Thaís Mureb.

sábado, 22 de novembro de 2008

Surf! Direto do Hawaii com Adilton Mariano

Batemos um papo com Adilton Mariano, direto do Hawaii.
O surfista fala um pouquinho sobre a viagem, sobre a falta de ondas e sobre os brasileiros que estão lá com ele.

“Hoje o mar deu uma abaixada...mas a viagem tá show, aqui tá muito bom!”

“Estou de frente pra Sunset, mas de frente mesmo, de rei... coisa de louco! Cheguei tem três dias e o mar deu uma baixada. Mas rolaram umas marolas aqui e eu dei uma caída ontem (quinta-feira), pra dar uma salgada na prancha, né...(risos). Tinha meio metro aqui, mas tá pequeno. Hoje eu nem caí. Só corri e dei uma malhada.”

“Aqui na casa que eu to tem um pessoal junto... eu, o Pablo (Paulino), o Heitor (Alves), o Robalo... É um visual muito irado, o pôr-do-sol é demais.”

“A previsão é que entre um swell amanhã, altas ondas e eu trouxe as pranchas certas. Trouxe uma 6'8 e uma 7'0, mas na casa que eu to aqui tem pranchas de todos os tamanhos. No primeiro dia eu caí aqui em Sunset de 6'8... deu pra gastar.”

“A expectativa é muito boa, tanto minha quanto do Pablo e do Heitor, e a gente tá amarradão, tá tudo certo.”

“Quando não tem surf a gente dá um rolé, de leve, durante o dia,pra conhecer. E fala com a galera do Brasil pelo computador, faz umas imagens daqui também, umas fotos... Estou aproveitando ao máximo!”

Que Adilton e todos os outros brasileiros consigam também mostrar o seu máximo nas ondas hawaiianas.


Com exclusividade para Thaís Mureb.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Surf-Entrevista: Adriano Mineirinho

Apesar de não ser mineiro, ele possui esse apelido pelo jeito quieto de ir papando as baterias aos poucos e passando despercebido. No entanto tornou-se este atleta fantástico que é o melhor brasileiro no WCT e apontado por especialistas e fãs como o primeiro surfista brasileiro com potencial real de ser campeão do Circuito Mundial, e em breve.

A seguir Mineirinho fala de coisas importantes, tais como: ser uma pessoa extremamente competitiva, sentir o feeling do surf mesmo depois de tantas competições e é claro, o que ele acha dessa história de ser “ o cara”.

WCT:
“ Eu sei as coisas que me faltam para ser campeão mundial. Eu não vou dizer aqui quais são, mas eu sei. Esse é o segredo. Quem tá ligado no WCT sabe do que eu estou falando, que existem coisas essenciais para ser um campeão, e eu to correndo atrás disso, pra quem sabe ser o primeiro de uma geração que tá vindo, muito forte. Eu sei que esse é o meu caminho e é isso que eu quero.”

2008:
“ Tá sendo um ano incrível. Eu consegui mostrar o que eu queria, em todos os eventos e fiz tudo que eu sempre sonhei. Estar entre os Top 5, hoje eu estou nesta listagem mais ainda tem dois eventos, eu tenho que correr atrás se eu quiser manter isso. Eu vou aproveitar esse evento em casa e não vou deixar me tirarem isso, de ser um Top 5 por que é uma coisa que eu sempre quis na minha vida, que eu sempre sonhei. Ano passado eu tava em 28º, brigando ali nas últimas posições pra eu me manter, e hoje eu estou brigando pelas primeiras,isso em questão de meses,então é difícil me adaptar a isso. Mas eu estou tendo um apoio muito forte do meu patrocinador, do meu manager, muitas pessoas que estão me dando suporte e que acreditam e estão felizes com o meu trabalho. Tô muito feliz com esse ano e acredito que o ano que vem vai ser melhor ainda!”, fala Mineiro bastante esperançosos quanto aos resultados para o WCT 2009.

Top 5:
“ Pra mim é até difícil de entender, é muito bom..As coisas na minha carreira sempre aconteceram muito cedo...Fui campeão Mundial Pró Junior muito cedo,fui campeão do WQS muito cedo...
Eu entrei no WCT muito cedo e por isso eu não esperava essa posição assim,tão cedo. Mas eu quero é me divertir, e aproveitar muito esse momento de hoje. Não quero mais perder nenhuma oportunidade, eu já perdi algumas oportunidades, nos primeiros anos de WCT, então esse ano eu estou focando muito isso, não perder as oportunidades e aproveitar tudo o que vier!”

Mudança para os EUA:
“Eu tomei uma decisão ano passado, de me mudar para os Estados Unidos, mas é uma questão muito difícil. É um projeto de um atleta brasileiro morando fora, isso ainda não tinha acontecido e eu estou tomando essa iniciativa, de ter uma melhor qualidade de vida, viajar menos, por que o circuito cansa muito. Então se eu estiver em Los Angeles, por exemplo, todos os aviões saem de lá, então eu vou viajar menos. E não só pela qualidade de vida e pelas viagens, mas eu quero me aproximar da Língua Inglesa, falar como um americano ou um australiano, que predominam no circuito mundial, é a língua mundial. Então pra mim vai ser muito bom, ter essa nova experiência. E também pra me focar, só pensar em surf. Aqui tem família, amigos pra ver, contas pra pagar...Lá não. É só surf, surf e WCT.”

Kelly Slater e Mick Fanning:
“ Me espelho no Kelly Slater, não só como atleta que ele é, mas fora d'água também ele é um cara totalmente...(pausa) perfeito...Eu não vou falar que ele é um Deus e tal, mas ele é um cara totalmente perfeito, que passa uma imagem totalmente clássica, totalmente pura do surf e isso é muito legal. O jeito como ele se porta no circuito mundial, o jeito que ele compete, o jeito como ele sai da água é um exemplo a ser seguido, ele é o cara. O Fanning pra mim é determinação, por que não é fácil vencer o Kelly Slater. Então ele demonstrou pra todos que basta ter determinação pra conquistar o título,nada é impossível e foi isso que o Mick Fanning mostrou para o mundo.”

Free-Surf X Competições:
“ A competição tá no meu sangue. Eu vejo um campeonato, eu sou competidor, então eu quero competir e ganhar, eu quero entrar pra ganhar. Que foi o que aconteceu aqui. Eu quis aproveitar o evento, ainda mais aqui, no Arpoador, onde tudo começou aqui no Brasil, os primeiros caras que surfaram, surfaram essas ondas, nessa praia, então nada melhor que um evento do meu patrocinador aqui. Agora o free-surf pra mim, é aquela coisa de estar dentro d'água. Quando eu estou na água eu esqueço de tudo,eu esqueço do mundo. O contato que eu tenho com o oceano é sem palavras, é até difícil de descrever. Quando eu entro no mar e pego a prancha eu me sinto uma pessoa melhor, uma pessoa mais contente, não sei por quê e nem como descrever isso.”

Surf no Brasil:
“ O surf no Brasil é muito novo. O Gouveia que abriu as portas de tudo,que elevou o surf do Brasil ao nível mundial e eu fico até triste de ver que as pessoas não reconhecem nomes como o Fabinho, como o Peterson, como o Guilherme, que foram pessoas que abriram as portas pra essa geração de hoje, que sou eu, o Hizunomê...Nos EUA, na Austrália o surf tem um reconhecimento muito maior. No Brasil esse reconhecimento está crescendo, eu vejo essa evolução. Muitas marcas internacionais estão investindo nos atletas de base, nessa molecada...e tem que acreditar nesta formação por quê daqui que vem o campeão”

Nova Geração:
“ O que eu tento deixar pra essa galera que tá vindo aí, e que é muito forte é treino, muito treino e surf. Pra mim as coisas foram muito difíceis, então todas as oportunidades que eu tive eu segurei com muita força. E eu nunca desacreditei, sempre trabalhei com muita força...e tudo começou muito cedo, hoje eu sou muito maduro em relação a isso. O que eu quero passar é, profissionalismo é tudo, e é o único caminho para se chegar a um Kelly Slater. O que eu quero passar para essa molecada é isso.”

Carreira:
“ O melhor da minha carreira é que eu nunca passei por cima de ninguém. Consegui tudo com o meu próprio esforço e sem deixar a minha felicidade de lado.”

Surf:
“ Felicidade máxima. Paz, poder, saúde e transpiração.”

Trabalho:
“ Nunca trabalhei. Meu irmão é militar e sempre falava pra mim...ó, tô trabalhando pra você surfar, hein...(risos). E eu sempre aproveitei isso.”

Backside ou Frontside:
“ Tanto faz. Se eu tiver no mar tá bom!”


Texto: Thaís Mureb.


PS: na boa...conhecer o mineiro muda a vida de qualquer pessoa.

Ano que vem... Kelly vai tentar o décimo...Mineiro vai ser campeão mundial em cima dele e vai entra pra história do surf.

Mto determinado...mto focado...diferente de todo mundo que já conheci...

se bem que ainda não conheci o Kelly...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Franklin Serpa: a nova geração do surf nacional mostra a sua força.




Patrãao!!!

Tubinho...






Franklin Serpa é um garoto especial. Talvez pelo fato de ter sido criado em Ilha Grande, Rio de Janeiro, um dos lugares mais bonitos e místicos do Brasil. Por viver em uma ilha, adquiriu outras perspectivas, outras dimensões. Outro nível de surf.

Para quem vive nas cidades, principalmente nos grandes centros é muito difícil imaginar como é a vida desta forma. Mas é isso o que encanta. Morar em uma ilha te transforma. O contato 24 horas com a natureza e a falta de contato com o externo, te libertam de uma forma indescritível. É uma outra rotina, são outros pensamentos, outros objetivos e percepções. A integração com o surf é plena. Motivos que hoje fazem Franklin Serpa voar.

Uma criança cercada de mar por todos os lados. Para ele o surf nunca foi uma alternativa. É a sua única saída.

“ Comecei a surfar em Ilha Grande, em Angra dos reis, quando eu tinha 7 anos, e foi muito bom. É uma onda muito boa, que ajudou muito o meu surf... Acredito que se não fossem as ondas de lá hoje eu não estaria onde estou.”

Franklin foi escrito em seu primeiro campeonato sem nem saber disso e conta como tudo começou e a primeira vez que ele foi surfar.


“ Era uma prancha muito antiga, de uns trinta anos atrás. Já era triquilha, uma 6'0, mas era muito velha, maior tocão (risos). Mas foi maneiro, foi uma sensação boa. Depois na Ilha mesmo, chegou um cara uma vez, me viu surfando e gostou do meu surf, falou que era pra eu competir... Mas eu nunca tinha pensado em competir na minha vida! Ele morava no Rio, um dentista chamado Mauro. Um belo dia, uma quinta-feira... ele liga lá pra casa e diz que fez minha inscrição no ASBT, que é um campeonato que rola lá (na Barra da Tijuca), e a gente não acreditou, nem eu, nem meu pai, nem minha mãe. Mas a gente foi. Nossa! Chegando lá o mar tava muito grande, minha mãe não queria que eu surfasse, tava muito grande! (risos). Eu caí assim mesmo, entrei no mar, e já fiz final, fiquei em quarto. Foi irado, muito irado!”

Depois disso, Franklin voltou pra sua Ilha, mas não tinha ainda um bom patrocínio, que lhe permitisse viver apenas de surf.

“ Eu continuei surfando, só que no Rio não tinha muito investimento, não tinha nenhuma marca... Eu fechei um tempinho com a Cyclone, mas não era nada demais. Depois meus pais tiveram que ir morar na Bahia, e eu fui junto. Eles iam morar em Porto Seguro, mas lá não tem onda, né... Meu pai tinha ouvido falar em Jojó de Olivença, e me levou em Olivença, antes de se mudar, por que achou que lá tinha. Chegando lá tinha altas ondas, uma semana muito boa, as ondas muito perfeitas e eu falei que ia morar lá. Sozinho.(risos). Eles não acreditaram...e eu fiquei morando uns quatro meses sozinho. Minha mãe ficou com muita saudade e veio morar comigo, depois meu pai também. Eu acabei obrigando todo mundo a ir morar em Olivença por causa de mim(risos).”

E por causa do surf.
Deste episódio pode-se destacar duas coisas que são fundamentais para entender Franklin Serpa.

A primeira é o apoio dos pais. Atualmente, a maioria das pessoas que têm filhos priorizam os seus problemas, seu trabalho e esquecem que toda criança é uma usina de potencialidades, e que cabe aos pais permitir que seu filho as desenvolva. Mas não os pais de Franklin.
Sempre acreditando na força do sonho do seu filho, optaram por acreditar em um objetivo maior, que hoje é recompensado nas manobras que Franklin Serpa faz ao redor do mundo e que já puseram seu nome entre os grandes surfistas, mesmo sendo tão novinho.

“O Franklin é um menino muito bom, que sempre correu atrás. A família Serpa acredita muito nele e sempre vai dar todo o apoio.” fala a mãezona Edna Serpa.

Desde cedo vivendo uma rotina de viagens, Franklin não mora com os seus pais, que moram em Búzios e optou por viver na Bahia.

“Saudade a gente tem e muita. Mas tem que pensar no esporte mais que na saudade. Quando você faz o que gosta, a saudade tá ali, mas fica meio de canto... aí o tempo vai passando e quando você vai ver, já era.”

A segunda é a força que o surf tem neste menino e a garra com que ele busca esse sonho. Muitas pessoas não teriam esta coragem de abandonar os pais, com tão pouca idade e ir morar sozinho, só para poder surfar. Algumas pessoas até gostariam, mas não botariam a banca. Não é fácil enfrentar seus pais ou convencê-los de que está fazendo o certo, principalmente durante a adolescência. Mas Franklin tem plena consciência dos seus atos e sabe aonde isso tudo vai te levar.

“Na Bahia eles me chamaram muito rápido para representar a equipe baiana no Brasileiro Amador. Isso já tem uns quatro anos. Eu fechei contrato com a WG e comecei a correr os Brasileiros. No segundo ano fui vice-campeão brasileiro mirim e fui disputar o ISA Games na Califórnia e fiquei em 13º. No outro ano me classifiquei também, agora pela categoria júnior. Corri Maresias, fiz um sétimo, e fiquei correndo os campeonatos, mas nunca fui campeão. Fui duas vezes vice-campeão, uma na mirim e uma... na open ou na júnior, não lembro...”

Ainda não foi campeão, mas com certeza esta estatística vai mudar. E muito em breve. Goofy, com um estilo muito próprio, clássico e agressivo ao mesmo tempo, o surf de Franklin Serpa lembra o surf de Bobby Martinez, a quem ele admira.
Disputando o Nordestino Profissional, ele tenta uma vaga para o Super Surf 2009 e conta como foi este ano que passou.

“Este ano rolaram uns campeonatos maneiros. Fiz umas colocações boas no Nordestino Profissional, estou em terceiro, tentando uma vaga para o Super Surf ainda. Acredito que vá conseguir, tem mais duas etapas, no Ceará... uma de 20 e uma de 30 mil. Eu quero fazer uma boa colocação pra garantir logo. Fiz um bom resultado, um quinto no Brasil Tour, mas tinha que ter passado mais algumas baterias, em outros eventos... que com certeza eu já estaria classificado pro SS, mas não deu. Em Itamambuca eu fiquei em terceiro no campeonato da Oakley e consegui uma vaga pra representar o Brasil no Mundial Oakley Global Challenge, em outubro deste ano, na Indonésia. A cada competição eu aprendo muitas coisas e ganho experiência na forma de competir.”

Franklin foi representar o Brasil, frente às maiores promessas do surf mundial, em Bali, junto com Miguel Pupo e Peterson Crisanto e diz que foi a realização de um sonho.

“Foi animal. Eu pude ir uns 16 dias antes, peguei altas ondas... Depois veio a competição, eu acabei não me dando muito bem, mas Bali é um lugar que eu sonhava em ir surfar, mais até do que Hawaii. Surfei nos melhores picos, Huluwatu, Keramas, Padang... O mar tava bom pra direita no campeonato, meio metrão... Lá é muito bom, é realmente o que você vê nos filmes, aquelas ondas perfeitas quebrando... lá, na sua frente, só depende de você surfar. Fiquei feliz demais com aquelas ondas.”

Bastante compenetrado, Franklin não se deslumbra facilmente. Quem conhece Ilha Grande, sabe quais valores realmente importam. E o que importa para Franklin é o surf.

“Prefiro surfar de frontside. Fico o ano inteiro surfando direitas onde eu moro, eu quase não pego esquerdas. De março a outubro eu quase não surfo esquerdas. Eu moro no backdoor de Ilhéus, e quebra de março a outubro. Espero o verão para pegar as esquerdas, mas quase não dá onda no verão!”

Espelha-se em alguns surfistas que se destacaram não só pela sua grande habilidade e estilo, mas também por atitudes fora da água.

“Admiro muito o Bruno Santos surfando, acredito que é o melhor brasileiro. O cara é muito bom em tubos! E ele tem um caráter... e eu me espelho nele. Aqui no Brasil é um cara que eu gosto muito. Queria muito poder viajar com ele, fazer umas trips, ver ele surfando de perto, como ele faz... e tentar fazer igual. Mas o meu surfista favorito é o Bobby Martinez, ele surfa muito, é goofy também, minha base, e eu gosto muito do surf dele. O Rob Machado também... nossa! É muito bom.”

Uma historia engraçada sobre Franklin é que o Brasil ganhou um surfista mas perdeu um atleta olímpico. Ele conta o por quê.

“Se não fosse o surf eu estaria no atletismo. Minha mãe corria muito, e o meu pai corria também e ela acabou me botando no atletismo em Angra. Se não me engano eu tenho os melhores resultados até hoje (risos)...Mas eu gostava mais do surf que do atletismo e acabei abandonando.”

Como qualquer outro menino, gosta de ficar com seus amigos. Além disso não pode faltar o Counter Strike, e claro, a dupla Orkut e MSN. Coisas da nova geração. Segue também uma rotina de treinamentos, buscando sempre aperfeiçoar o seu estilo.

“Quando eu não estou surfando eu gosto de ficar com meus amigos, galera jovem, todo mundo cabeça, ninguém usa drogas, só esporte. A gente nada, dropa uns morros de areia com pranchinha de sandboard, joga bola, faz muita coisa. Eu nunca gosto de perder, então em qualquer esporte eu faço o máximo para ser o melhor deles... (risos). Toda terça e quinta eu treino com Gabriel Macedo e sábado a gente vai pra Itacaré ou onde eu moro mesmo, vamos surfar. Sempre treino com o Bruno Galini e o Rudá.”

Poucos minutos de convivência com Franklin já revelam quem ele é. Simples e forte, humilde e guerreiro, um menino que traz dentro de si muitas experiências e lembranças boas de infância, que se refletem diretamente na sua vida e no nível do seu surf. Tudo que é feito com amor, é feito da maneira mais correta e tem aquela energia boa de quem sabe que as coisas têm a hora certa de acontecer. E quando se quer realmente, elas acontecem.

Ter ido morar na Ilha Grande mudou a vida de Franklin Serpa. Botou o surf na sua vida e pôs a sua vida na história do surf.

“ Eu estou no surf por que eu gosto muito. Gosto de estar em contato com as ondas. Eu gosto mesmo é de surfar.”


Entrevista concedida à Thaís Mureb, com exclusividade para o Câmera Surf- o Site mais Surf do Brasil.

Agradecimentos a Franklin Serpa por ter cedido fotos de seu Acervo Pessoal.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Bernardo Pigmeu: filho de Fabinho Gouveia tem que ter estilo.



Bernardo Pigmeu está forte. Recuperado de uma malária, atleta fala sobre sua recuperação, sua vitória sobre Taylor Knox, o aussie Dyyan Neve e sobre sua participação no WCT.


É um surfista com um estilo bastante refinado e graças à isso e à uma enorme amizade, que inclusive o influenciou no surf, é considerado filho do “Fia” Fabinho Gouveia.

No último WCT, junto com Jihad Khodr, Pigmeu e Dyyan Neve disputou a 13ª bateria do Round 1, com vitória de Pig, que avançou direto para o terceiro.

No Round 3, venceu ninguém menos que Taylor Knox, que dispensa comentários. Venceu e com estilo. Knox virou a bateria faltando três minutos, mas Pig não se intimidou e deu o troco na onda seguinte.


“Abri a bateria bem, isso me deu bastante confiança. Demorei pra conseguir uma segunda onda boa, mas durante a bateria consegui me acertar e aumentar a diferença. Mas é Taylor Knox. Sabia que qualquer hora ele podia virar a bateria, e foi o que aconteceu. Anos de WCT, muito experiente. Sou fã do surf dele, ele arrebenta. Mas eu dei muita sorte, consegui fazer uma manobra muito forte e virar no fim.”


No Round seguinte bateu Dyyan Neve, mesmo ficando atrás durante mais da metade da bateria. Pigmeu consegue virar, com duas boas ondas e Dyyan não consegue acompanhar seu desempenho.


Arranca aplausos da torcida e garante mais um brasileiro nas quartas de final, ao lado de Léo Neves e Heitor Alves.

“Eu não comecei muito bem a bateria, tinha duas ondas fracas, em torno de três e pouco, e o Dyyan abriu com um 5 e pouco e ficou um pouco mais tranqüilo. No meio da bateria eu consegui virar, peguei uma onda boa, soltei duas manobras, fiz 7,67 e consegui igualar minha melhor nota com a melhor nota dele. Depois eu fiquei esperando um pouco mais e fiz uma nota 6 e pouco e ele não conseguiu outra onda boa. E foi acontecendo... O Dyyan ficou a bateria quase toda com a prioridade e acho que ele ficou escolhendo as ondas muito tempo. Eu fiquei mais no inside, tentando achar uma ou outra e consegui trocar as notas e obtive vantagem sobre ele.”


Ele comenta sobre a estratégia do surfista australiano:


“Ele ficou a bateria toda com o uso da prioridade, mas a gente manteve uma distancia, então ele não chegou a me atrapalhar muito. Talvez eu tenha atrapalhado ele... (risos). Na onda que eu fiz 6 e pouco, ele remou, ele tentou vir na onda... mas eu ignorei... assim, fingi que não vi e fui na onda. Tanto que fiquei com medo depois e olhei pra trás pra ver se ele vinha ou não... Me posicionei melhor, escolhendo as direitas, ele preferiu as esquerdas. Deu tudo certo.”
Na bateria seguinte Pigmeu não conseguiu avançar. Perdeu para o campeão Bede Durbidge. Mas fez muito bonito. Mostrou que não só está no nível da elite do surf mundial, mas que também briga com os caras de igual para igual. E adora a experiência.
“ Eu estou achando esse campeonato alucinante. O organização do evento está de parabéns, a Hang Loose está de parabéns, tem altas ondas na Praia da Vila. As ondas são bem volumosas... é uma característica dessa onda. A visão que as pessoas tem da praia é totalmente diferente ,as ondas tão bem maiores. Pena que não está sol hoje, mas nem tudo pode ser tão perfeito assim.(risos)”


Revivendo momentos de WCT:


“É alucinante, participar deste campeonato, estar entre os melhores 45 surfistas do mundo e é muito bom me classificar, ir passando as baterias. Em 2009 eu vou disputar o WQS e me focar 100% nesse campeonato. É bom vir sem nenhuma pressão, o surf rola mais tranqüilo...”
Sobre as ondas da Vila:


“Eu não surfo aqui, mas nas vezes que eu surfei deu pra eu aprender bastante sobre a onda. Tem aquela correnteza, jogando no canal... quando você está no meio ela te joga mais para a esquerda, pra manter a posição e pegar as direitas tem que ficar remando contra... umas coisas básicas da onda, mas que deu pra pegar uma manha.”


Foi o melhor resultado de Pigmeu depois que ele teve malária.


“Eu cheguei a correr umas etapas do WQS, mas não tinha ido tão bem quanto estou indo neste campeonato agora. Mas cheguei bem no Arpoador, fiz quartas(contra Simão Romão, que foi campeão), Ubatuba também... fiz umas baterias boas em Itajaí... Mas esse é o melhor evento pra mim. Eu estou bem, estou recuperado... é uma doença meio complicada, a qualquer momento a minha imunidade pode baixar, pegar um resfriado, coisa assim. A médica falou que a minha não ficou incubada, não foi crônica... espero que não. Mas eu estou bem tranqüilo, 100%.”


Pigmeu fala sobre os dois brasileiros que estão no WCT, Heitor Alves, Marco Polo e Léo Neves e sobre a permanência deles no Tour.


“Eu quero muito que os brasileiros continuem na disputa. O Heitor está precisando de pontos para se manter no WCT no próximo ano, tenho certeza que ele vai conseguir, que ele é um surfista de mutia garra. O Léo também, está na mesma situação, o Marco Polo... E eu espero que eles permaneçam bem e obtenham a pontuação que precisam pra se manter no Tour.”


Pigmeu comenta também a vitória antecipada de Kelly Slater:


“Kelly Salter é um fenômeno. Eu não tenho nem palavras pra dizer o quanto esse cara representa, o nível do surf dele é superior a de qualquer outro. Eu fiquei impressionado com uma sessão dele no Tahiti, era o WCT em Teahupoo, eu tive a oportunidade de estar no canal e fiquei observando... várias outra sessões também dele, que eu já vi em Pipeline, de Backdoor, de maneira absurda, bizarra... a maneira que ele surfa... ele é um fenômeno e tem muitas chances de conquistar seu 10º título mundial.”


Pigmeu é considerado filho no surf de Fabinho Gouveia, uma brincadeira feita pelos amigos surfistas. Filho de Fabinho, tem que ter estilo.


“Sem dúvida, né... (risos). O cara é o rei do estilo pra mim, sou fã dele. E com certeza me espelho no estilo do seu surf.”


E se continuar neste caminho ainda vai brilhar muito no WCT.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Bede Durbidge vence duelo contra Taj Burrow na Zimba.

Não, eu não to doida!!! E sim, a final foi Bede Durbidge contra Jeremy Flores. Mas Durbidge não conquistou só o título da etapa e saiu da Praia da Vila vencedor do duelo particular que trava contra Taj Burrow pela segunda colocação deste ano. Já que Kelly Slater foi campeão antecipadamente, a cada etapa a briga se acirrava.

Como Joel Parkinson, que era o terceiro colocado, não veio ao evento no Brasil a disputa ficou entre os dois aussies e os dois entraram neste domingo com tudo para garantir boa pontuação.
Ambos permaneciam na disputa, cada um já com 600 pontos obtidos. Mas o francês Mikael Picon estragou a festa de Taj e avançou para as quartas de final. Restava a Durbidge alcançar no mínimo a segunda colocação.

O dia estava épico. O mar, de gala, com excelente formação e lindas direitas se abrindo, motivou a direção do evento à antecipar as baterias e encerrar o campeonato neste domingo mesmo.
Na primeira bateria do dia, Léo Neves já impõe seu ritmo sobre Marco Polo, abrindo a session com 7,5. Marco Polo não consegue tirar o prejuízo e Léo ainda faz a segunda melhor onda da batera, 6,33.
O francês Jeremy Flores vence Ben Burgeois sem grande dificuldade e avança para as quartas, marcando 15 pontos contra 11,4. Jeremy, que tem a maior nota do evento, 9,8, abre com 6,17 e ainda consegue 8,83 numa ótima esquerda.

O australiano Daniel Ross vence o também aussie Tom Whitaker pela menor diferença do dia, 13,5 a 13 pontos.

Taj e Picon. Taj tinha ondas 8 e 6,5 e o francês 5,17 e 7,17. Faltando cinco minutos para o término Picon faz um high-score e vence a bateria em cima do número 2.

“Essa vitória é muito importante para mim. É muita pressão no Tour, para se manter na elite e eu estava precisando de um bom resultado. Quero muito continuar no WCT. Enfrentar o Taj é bastante difícil e eu estou bem contente de ter passado. Eu gosto de estar no Brasil e eu consigo fazer meu surf, vou surfar sem pressão.”

Perguntado sobre o duelo que viria contra o compatriota e amigo Jeremy Flores, Mik Picon responde:

“Nós somos muito amigos. Eu, o Jeremy, o Tiago(Pires), o Marlon Lipke , o Michel Bourez... viajamos e competimos juntos. Nós somos parte de uma força do surf da Europa,tudo em torno de um projeto para termos um campeão mundial. Nós estamos conseguindo representar bem a Europa, independente do país, da nação, somos um time europeu e qualquer um de nós que avance em qualquer bateria sempre é muito positivo.”

Bede Durbidge entra na bateria seguinte e inspirado por esta eliminação bate Damien Hobgood e avança rumo as finais do campeonato. Não seria uma pontuação suficiente, mas já significava, no mínimo 132 pontos a mais do que Taj.

“ O Taj sem dúvida é o melhor surfista do evento. Ás vezes você surfa o seu melhor, mas lá dentro do mar tudo pode acontecer. Está bem grande hoje e acho que ainda vai melhorar.”, fala Durbidge.

Bernardo Pigmeu passa pelo aussie Dyyan Neve e garante mais um brasileiro nas quartas de final.
Pigmeu vem apresentando um surf muito bonito no estilo e muito constante também.
“A sorte ajuda também e o bom posicionamento. Eu fiquei me posicionando mais nas direitas e ele optou pelas esquerdas, que acabaram não sendo tão boas assim. As direitas que eu peguei abriram e eu consegui duas boas notas.”

Heitor Alves não se intimida diante de C.J Hobgood e mostra por que é o Fanning brazuca. Faz 17,23 contra 13,5 do campeão mundial, na bateria mais aguardada do dia. Heitor dropa morras, que se abrem a sua frente bastante longas e solta as rabetas e mostra as quilhas, numa onda excelente 9,4. Vibração geral da torcida, que mesmo com a chuva prestigiava o surf de alto nível.

“O vento está acalmando, as ondulações estão entrando... altas ondas. O aéreo foi incrível. Eu esperei a onda abrir para eu manobrar, mas vi que dava pra mandar o aéreo, e eu tenho treinado bastante ele e deu certo. O aéreo veio, eu voltei e cai na espuma... (risos). Deu tudo certo.”

Fred Patacchia, a lenda do surf havaiano passa por Tim Reyes, já abrindo com um excelente 8,33. Mesmo mesmo não encaixando uma segunda onda boa, the legend vai para as quartas e eleva o nível da disputa.
O mar mantém as excelentes condições e os surfistas vão para o mar disputar a fase final do evento.

Léo Neves não consegue passar pela sensação Jeremy Flores, que faz nesta batera o segundo melhor somatório do evento, 18, 06. A bateria fica bastante apertada até o fim, mas Flores fecha o caixão com uma onda excelente, um 9,23, onde ele abusa do power surf, bem ao estilo do seu adversário, Léo.
O francês Mikael Picon, embalado pela vitória sobre Taj, avança mais uma, desta vez vencendo o australiano Daniel Ross.
Bede Durbidge tira mais um brasileiro da disputa, Benardo Pigmeu, que não consegue fazer frente ao surf inspirado de Durbidge, que tem muito mais interesse na disputa devido a briga com Taj pela segunda colocação.
Heitor Alves também se despede da disputa, numa ótima bateria onde enfrentou o havaiano Patacchia e finalizou a participação brasileira na disputa.

Primeira semi final, duelo de franceses. Jeremy Flores mais uma vez impõe a força de seu surf e vence Mik Picon.
Na segunda semi-final Bede Durbidge vence Fred Patacchia. Vitória do surf linha sobre o power-surf. Durbidge consegue as melhores ondas da bateria e já garante a segunda colocação no Ranking da ASP World Tour.

Mas o dia não estava completo para Durbidge. Já que ele estava na final, queria comemorar.
E a festa foi completa.

Durbidge já abriu a bateria com um aéreo que lhe rendeu um high-score. Jeremy ainda tentou buscar uma onda deste nível, mas Durbidge pegou uma excelente direita, e pra presentear o público, que enfrentava o frio, tirou um lindo tubo e esquentou o clima da Praia da Vila.
“Estou muito feliz, é muito bom ganhar aqui no Brasil. Tinham ondas realmente muito boas hoje e a melhor decisão foi realizar o campeonato. São as melhores condições que eu vi no Brasil, nos últimos anos e a presença de todas estas pessoas na praia... Aqui é sempre uma alegria, as pessoas te recebem muito bem, e conhecem o surf, te acompanham... Muito obrigado a todos, muito obrigado!”

Pelo surf apresentado, quem viu também agradece.