terça-feira, 25 de novembro de 2008

Bruninho Santos: De Itacoá pro mundo.

Bruno Santos é o surfista da moda. Não por opção sua, nem por seu estilo.

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Enquanto a moda são as raves, Bruninho prefere o reggae. Se todo mundo busca o Hawaii, ele se entoca em Itacoatiara. A mania é digital, ele gosta de livros. Se todos querem dar aéreos, Bruninho Santos prefere os tubos. Clássico.

Saiu em todas as capas de revistas especializadas. Foi nos melhores programas, deu muitas entrevistas. Recebeu o apelido de Mr. Teahupoo. Mas para ele, nada mudou.

Continua sendo o mesmo menino simples de Itacoá. Casado, pai de Sophia de 2 anos e seis meses (já viu que a pequena é skateboard, né Bruninho!), esse niteroiense tube-rider não liga para o que está ou não na moda.

Ele só quer mesmo é ouvir reggae e surfar.

O ano de 2008 entrou para a história do surf brasileiro. E com exclusividade, Bruninho conta como tudo aconteceu:

“No começo de 2008 eu já tinha recebido um prêmio super legal, por ter surfado a maior onda do Brasil de 2007, mas eu comecei o ano meio devagar nas competições. Na primeira etapa do WQS em Fernando de Noronha que eu costumo ir bem, perdi logo no comecinho, depois fui pra Austrália, uma outra etapa que eu costumo ir bem, mas também não consegui um bom resultado.”

Mas teve Teahupoo. E a história todo mundo já conhece. Mas é incrível perceber, numa conversa, como uma pessoa pode ser tão humilde a ponto de encarar uma conquista com essas proporções de uma maneira tão natural. Bruno Santos é um predestinado.

“Logo depois, em maio, veio o Tahiti. Em 2007 eu já tinha participado e tinha passado nas triagens, mas não tinha ido muito bem no main-event (evento principal). Então eu me classifiquei de novo esse ano através das triagens, eu fui bem antes para treinar, pra surfar bem... Acabei ganhando a vaga. As triagens rolaram num mar perfeito, épico. Acabou dando tudo certo e eu saí de lá vencedor.”

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Parece até que foi fácil. Mas por trás de toda vitória tem uma história. E essa não foi tão simples assim.

“Foi uma vitória bem complicada. Tiveram várias pedras no meu caminho...(risos). Eu fui com poucas pranchas, levei só quatro e quebrei quase todas antes do início da competição. Nas triagens eu só tinha duas e quando chegou o evento principal eu quebrei a única 6'1 e fiquei só com uma 6'3. No último dia da competição o mar abaixou bastante e eu acabei pegando uma prancha emprestada que caiu que nem uma luva! (risos). Era uma 5'9, bem pequenininha. E também me machuquei, né... tomei quinze pontos.”

Alguns desistiriam. Outros desanimariam ou se deixariam abalar. Mas Bruninho Santos nem percebeu. One good thing about surf, when it hits you feel no pain.

“Na verdade eu nem pensei nisso tudo, eu queria surfar. Eu tava surfando, curtindo e quando eu vi eu já estava nas finais, na semi-final e fui campeão. Mas eu nem dei muita importância para isso. Não me abalou muito ter ficado sem prancha, ter me machucado, por que eu sabia que dava pra chegar... Foi um corte profundo, mas apesar disso dava pra surfar tranqüilamente. E a prancha... não ia fazer tanta diferença assim...por que é Teahupoo...e eu estou acostumado a entubar. Pra mim a prancha faz muito mais diferença num mar assim, tipo está hoje aqui em Imbituba, a onda mais cheia... do que lá em Teahupoo. Lá é só você botar no corte que já está no tubo, a prancha não interfere tanto assim. Então eu não deixei nada me abalar.”

Muito fácil, né?!

Depois de Teahupoo muita coisa mudou. Mas ele mantém seu foco e busca se firmar na elite do surf mundial, onde é o seu lugar devido.

“O reconhecimento foi muito grande, mas eu continuei levando... Tem as competições no Brasil, eu tenho feito bons resultados. Disputei o título do Super Surf até a última etapa, mesmo sem ter participado de uma das etapas, venci uma do Brasil Tour... Então, apesar de ter sido um bom resultado eu sei que eu tenho muito que correr atrás ainda. Eu sou novo, tenho 25 anos, quero tentar entrar, de verdade, para a elite e vou dar um gás nisso nos próximos três anos.”

Aprendeu a surfar num canal, o Canal de Itaipu, só com 11 anos de idade. Mas tirou o atraso fazendo um intensivo nas bombas de Itacoatiara, que são famosas não só por suas morras gigantes mas também por sua formação, que não perdoa os que se arriscam.

Bruno Santos tem um dom. De fabricar tubos. Quando ele entra no mar, as ondas ficam até mais ocas em reverência ao estilo do seu surf. Algo a ser admirado e respeitado. Elevou o nome do Brasil a lugares nunca antes alcançados. Alguns surfistas brasileiros já tinham obtido bons resultados no WCT. Poucos conseguiram ser campeões de etapas. Mas só Bruno Santos dominou Teahupoo. Estilo, coragem e tube-feeling.

Fala aí Bruninho, qual o macete:

“Acho que o fato de eu ter aprendido a surfar em Itacoatiara, mais o fato de eu estar sempre viajando, buscando esse tipo de onda...sempre fui pro Hawaii, sempre fui pra Indonésia. E também...(pausa). Eu já nasci um pouco com isso. (risos). Me sinto muito a vontade dentro de um tubo. Gosto de onda grande, sempre gostei. Então é uma mistura. São vários fatores, que acabam fazendo eu surfar bem esse tipo de onda.”

Todo mundo quer entubar igual a Bruninho Santos.. Eu, você e até mesmo os surfistas profissionais, que vivem admirando seu estilo tube-rider. Nas esquerdas, de frontside, ele é mestre.

Atleta da Rip Curl a vários anos ele fala um pouco da parceria de sucesso com a marca e das cobranças:

“Não rola aquela cobrança grande não. É lógico que os caras querem me ver no WCT e vão me dar todo suporte pra isso, mas nunca rolou uma pressão muito forte. Eu sei que o que eles mais querem é me ver lá dentro, mas eles sabem o quanto é difícil, são só 16 vagas, disputadas pelos melhores surfistas do mundo inteiro. Eles estão me dando todo o apoio. E eu vou continuar batalhando nos próximos anos pra conquistar minha vaguinha.”

Entre uma viagem e outra gosta bastante de ler. Leu os já clássicos do Dan Brown, Código da Vinci e Fortaleza Digital. Viagens, surf e livros. Combinação perfeita. Quem entende e gosta, sabe do que se trata.

“Eu gosto muito de aprender coisas novas e para isso nada melhor do que ler. Eu estou sempre lendo alguma coisa, podendo filtrar alguma coisa...Eu passo muito tempo dentro de avião, sempre viajando, e é um bom passatempo, eu estou sempre lendo. E até mesmo para abrir um pouco a mente, não ficar tão fechado só pensando em surf, surf, surf o dia inteiro... Até por que o surf de competição...(pausa), chega uma hora que ele acaba, né... e você tem que está preparado para o que está por vir.”

Cada frase de Bruno Santos impressiona mais. O que dizer de uma pessoa com estas atitudes? Qualquer definição não seria suficiente. Nem para a sua pessoa, nem para o seu caráter, nem para o seu surf.

Não existem palavras que definam alguém que ultrapassa o que há melhor.

De Niterói ele não herdou só o gosto pelos tubos de Itacoá. Como bom papa-goiaba que é, (essa é uma brincadeira dos cariocas com os que nascem do lado de lá da ponte) curte um reggaezinho de raiz e fala sobre a cena do reggae em Niterói. Para quem não sabe, a cidade é uma usina de talentos, fonte de várias bandas, que ele adora.

“O reggae é o som que eu mais curto, eu escuto reggae o dia inteiro. A galera toda da banda Naya estudava comigo, na minha sala, o Enzo, o Mumu. Conheço todo mundo do Canamaré, Bagabalô... é o som que eu curto. Rosa Amarela também, o Duka morava na minha rua. Eu curto bastante o reggae, não sou muito fã de música eletrônica, essas músicas... (risos). Estou sempre escutando reggae... antes das baterias, depois que eu saio da água... e eu gosto muito dessas bandinhas de Niterói. Prefiro muito mais ir num showzinho da galera do que ir em outros shows que às vezes chamam até mais atenção.”

Bruninho Santos é um menino que não gosta de chamar atenção. Passaria até despercebido. Não fosse o tamanho do seu surf.

“ Eu gosto de dar um rolé de skate, jogar um frescobol na praia, bater uma bola, mas nada a sério, não... Mas quando não tem onda eu estou sempre fazendo uma atividade.”

De sério, basta o surf apresentado, que a cada dia toma mais espaço na vida desse pequeno- gigante.

“ Começou como hobby, mas na verdade o surf é tudo hoje em dia. É minha fonte de renda, de felicidade... é a minha alegria! É tudo mesmo! Eu passo o ano inteiro surfando, o dia inteiro surfando... se eu ficar sem surfar... acho complicado.(risos). O surf me completa!”

E Bruno Santos, dentro de cada tubo, em cada onda, certamente completa o surf- e o torna muito mais bonito de ser admirado.

 

 

Entrevista concedida a Thaís Mureb, com exclusividade.

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