segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Wiggolly Dantas: um campeão em potencial, um exemplo a ser seguido.

Wiggolly Dantas: um campeão em potencial, um exemplo a ser seguido.

DSC01222 Wiggolly Dantas é um campeão. E não estou falando a respeito dos campeonatos que já venceu, como a última etapa do WQS, realizado em Itamambuca. Com apenas 18 anos, ele conseguiu vencer a dislexia, um problema de difícil diagnóstico e atualmente fala além do português, inglês, espanhol e francês. E não quer parar por aí.

Diferente da grande maioria dos surfistas, Guigui é um garoto muito centrado, que sabe que um surfista não é feito só de ondas. Sabe o que quer, aonde quer chegar e exatamente o que fazer para chegar lá.

Surfou pela primeira vez aos três anos de idade, levado pelo irmão. Ele conta como foi fechar um patrocínio com a Quicksilver, aos 9 anos de idade:

“ A primeira vez que eu fui surfar foi meu irmão que me levou, aqui em Itamambuca. Era uma prancha dele, maior, acho que era uma 6'1 ou 6'0, não lembro... eu tinha 3 anos. Consegui ficar em pé de primeira, era pequenininho e comecei a gostar. Eles passaram a me levar todo dia, meu irmão(o surfista Wellington Carrane), a minha irmã(a surfista Suellen Naraísa) e o meu pai, e eu ia surfar. Fiquei surfando direto até uns oito anos assim, e corri meu primeiro campeonato, aqui em Itamambuca. Fiquei em sétimo. E comecei a gostar de surfar para competir. Entrei no brasileiro amador, no Hang Loose... e fui competir os mundiais. Com 9 anos eu entrei na Quicksilver e estou com esse patrocínio vai fazer 10 anos.”

Para quem não sabe, a história é curiosa. Foi o surfista Renan Rocha, que “descobriu” o Guigui e que fez o famoso “quem indica”.

“ Eu tava surfando aqui em Itamambuca, o Renan veio falar comigo e pediu o meu currículo, que ia arrumar patrocínio pra mim. Uma semana depois ele voltou, com uns adesivos...ele tinha me dado só os adesivos e eu não acreditei...caramba, Quicksilver... a gente foi no carro pra pegar umas coisas, fiquei amarradão. O sonho de todo surfista é ter o patrocínio da Quicksilver.”

Guigui tem uma trajetória vitoriosa. Até os dezesseis anos corria campeonatos amadores e profissionais,quando foi tri-campeão brasileiro amador e penta campeão do Hang Loose Surf Atack. Virou profissional aos dezessete. Passou a disputar então mundiais, WQS e Pró Juniores. Foi Campeão Mundial King of the Gromitts, na França, campeão sul-americano Pró Junior, foi campeão sul-americano representando a equipe brasileira, campeão de duas etapas do WQS 6 estrelas,uma na Inglaterra, e a outra em casa, Itamambuca. E isso só em um ano.

coroação

“ O ano está sendo bom. Eu estou surfando, fazendo alongamento, tava treinando boxe e jiu-jitsu... agora estou dando uma relaxada aqui em casa, mas vou começar a treinar pra ir pro Hawaii com força. Quero pegar umas ondas grandes, surfar bem, pegar tubos... se eu conseguir uma vaga pro WCT, quem sabe... não estou preocupado com isso. Mas eu vou focado do mesmo jeito.”

Ele ainda estava na disputa por uma vaga para ir ao Mundial Pró Junior, mas havia recebido a notícia que Jádson André havia sido o escolhido.

“ Eu estava na disputa por uma vaga, mas já fiquei sabendo que ele que vai... O critério de escolha seria o pró-júnior que estivesse com melhor pontuação no Ranking do WQS e ainda faltam duas etapas, no Hawaii. Mas algumas pessoas disseram que ia ser escolhido depois das etapas do Brasil, e outras disseram que não. Eu acho justo que seja depois do Hawaii, por que vai que eu mando bem lá, subo no Ranking e não posso mais disputar a vaga...”

Bastante consciente, Guigui é um surfista que se preocupa com a sua formação profissional e intelectual. Gosta de estudar línguas, faz intercâmbios para conhecer outras culturas e aprimorar os seus idiomas. Venceu a dislexia e mostrou que superação é fundamental para qualquer conquista. No esporte e na vida.

“ Tem muito tempo já que eu vou para a Austrália e fico estudando... vou fico quatro meses, fico em frente a Kirra... Aprimoro meu inglês, surfo, vejo os caras surfando, os WCTs que surfam lá... aprimorar o inglês, surfar, ver o jeito que os gringos estão surfando e tentar surfar igual, já fazem valer a pena a ida para a Austrália.”

Alguns surfistas se contentariam com muito menos, Guigui. Como só surfar, por exemplo.

“ Eu gosto muito de aprender outras línguas. Acho que por ser uma cultura diferente... isso que eu gosto. Em todo lugar que eu chego eu tento aprender um pouco, se é muito difícil eu não desisto, penso em aprender, em voltar no outro ano... e isso é muito bom.”

Garoto bastante caseiro, tive a oportunidade de conhecê-lo um pouco melhor e até participar da comemoração pelo título, regada a muito Red Bul, seu outro patrocinador.. A família é o seu esteio, é o que faz tudo funcionar. Irmãos e primos surfistas, pais bastante incentivadores, Guigui faz do seu lar e da Praia de Itamambuca o seu refúgio. O lugar onde descansa das viagens e repõe suas energias antes de outra jornada.

“ Eu gosto de ficar com meus amigos, ir ao cinema, jogar vídeo-game, playstation...um Counter Strike ou Kelly Salter... gosto de chegar aqui, surfar com os meus amigos, ficar com a minha família. Surfar no lugar onde eu aprendi a surfar, tem toda aquela vibe... pegar as melhores ondas... é isso o que eu mais gosto.”

Fala sobre o papel que o surf tem na sua vida, depois de 15 anos de convivência com esporte, sobre o seu estilo e em quais surfistas se inspira.

“ O surf é minha vida. Eu faço um free-surf com amor, com paixão... eu entro na água e esqueço de tudo... Eu só quero surfar...normal, relaxado, isso que é bom. Ainda mais na minha praia, o lugar onde eu moro, onde eu nasci... não tem preço que pague. Gosto de surfar bastante de backside, por que eu faço umas manobras mais radicais... eu faço radicais também de from, mas para campeonato, eu sempre tiro as maiores notas de back. Minhas manobras preferidas são os aéreos, os tubos e as batidas. Gosto muito do Andy e do Bruce Irons, Rob Machado, Patrick Bevan, Jeremy Flores, Mik Picon...”

Ele fala a respeito dos amigos a quem ele dedicou a ultima vitória, os dois já falecidos.

“ Eram dois amigos meus que moravam aqui, os dois surfavam de long... quando eu tinha uns 5, 6 anos eu conheci os dois e até os quinze a gente sempre estava junto. Só que infelizmente um foi... (pausa) é mataram ele... e o outro foi de diabetes. E para Itamambuca, era muito importante eles estarem aqui com a gente. Itamambuca, querendo ou não, sabe que eles faziam parte e ainda fazem parte do nome dessa cidade. Por isso que eu dediquei o título para os dois.”

Quando foi diagnosticado que ele tinha dislexia, mostrou-se que ele possuía 100% de aptidão para o esporte. E ele contornou todas as adversidades, aproveitando esta aptidão paro o surf, fazer boxe, jiu-jitsu, andar de skate, e etc...

“ Quando eu ia para escola era muito difícil de aprender, eu nunca queria ir, voltava pra casa... Eu até pensei em parar, em não ir mais pra escola, mas pensava... eu tenho que conseguir, não é assim, eu não posso desistir. Eu fui em São Paulo diagnosticar, e acabou mostrando que para esportes eu sou 100%, acabei me desenvolvendo mais para o esporte. Isso é bom por que eu gosto de fazer, eu gosto de treinar... boxe, jiu-jitsu... e acaba que não importa se você é bom ou não, você tem que fazer o que você gosta... é que nem andar de skate, gosto muito e às vezes corro também.”

Guigui é movido a sentimentos. Bons sentimentos. Sentimentos de amizade. Há dois anos ele escuta sempre a mesma música antes da bateria. Uma música que remete a bons momentos, vividos com bons amigos.

“ Há dois anos que eu escuto a mesma música antes das baterias. Sempre a mesma. É uma música do Eminem. Estava eu e todos os meu melhores amigos, que a gente fala que é uma família... São o Jeremy Flores, o Patrick Bevan, o Mik Picon e a Nicky Bevan...Ricardo Arona, eu o Zé Marcelo e o Jojó... estava todo mundo junto e teve uma festa, tava tocando essa música. Eu comecei a cantar e a gente começou a escutar essa música pelo Hawaii todo. Ficamos quatro meses, só tocando essa música, escutando essa música. E eu comecei a gostar e a competir só com ela... todas as baterias que eu escuto essa música eu entro instigado, penso na galera toda junta, toda aquela vibe... penso que irado!!!...vamos, vamos... e dou um gás... é animal!”

Wiggolly Dantas é assim. Um homem completo, mesmo ainda garoto. Um ser humano que busca a sua evolução. E a sua evolução é o surf. A evolução do surf nacional, que dentro de pouco tempo elevará o Brasil a novos parâmetros.

Parabéns Wiggolly. O país agradece.

DSC01246 Com a priminha....

 

 

Direto da casa do Rei de Itamambuca, muito bem recebida e com exclusividade para o Câmera Surf, Thaís Mureb.

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