segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Franklin Serpa: a nova geração do surf nacional mostra a sua força.




Patrãao!!!

Tubinho...






Franklin Serpa é um garoto especial. Talvez pelo fato de ter sido criado em Ilha Grande, Rio de Janeiro, um dos lugares mais bonitos e místicos do Brasil. Por viver em uma ilha, adquiriu outras perspectivas, outras dimensões. Outro nível de surf.

Para quem vive nas cidades, principalmente nos grandes centros é muito difícil imaginar como é a vida desta forma. Mas é isso o que encanta. Morar em uma ilha te transforma. O contato 24 horas com a natureza e a falta de contato com o externo, te libertam de uma forma indescritível. É uma outra rotina, são outros pensamentos, outros objetivos e percepções. A integração com o surf é plena. Motivos que hoje fazem Franklin Serpa voar.

Uma criança cercada de mar por todos os lados. Para ele o surf nunca foi uma alternativa. É a sua única saída.

“ Comecei a surfar em Ilha Grande, em Angra dos reis, quando eu tinha 7 anos, e foi muito bom. É uma onda muito boa, que ajudou muito o meu surf... Acredito que se não fossem as ondas de lá hoje eu não estaria onde estou.”

Franklin foi escrito em seu primeiro campeonato sem nem saber disso e conta como tudo começou e a primeira vez que ele foi surfar.


“ Era uma prancha muito antiga, de uns trinta anos atrás. Já era triquilha, uma 6'0, mas era muito velha, maior tocão (risos). Mas foi maneiro, foi uma sensação boa. Depois na Ilha mesmo, chegou um cara uma vez, me viu surfando e gostou do meu surf, falou que era pra eu competir... Mas eu nunca tinha pensado em competir na minha vida! Ele morava no Rio, um dentista chamado Mauro. Um belo dia, uma quinta-feira... ele liga lá pra casa e diz que fez minha inscrição no ASBT, que é um campeonato que rola lá (na Barra da Tijuca), e a gente não acreditou, nem eu, nem meu pai, nem minha mãe. Mas a gente foi. Nossa! Chegando lá o mar tava muito grande, minha mãe não queria que eu surfasse, tava muito grande! (risos). Eu caí assim mesmo, entrei no mar, e já fiz final, fiquei em quarto. Foi irado, muito irado!”

Depois disso, Franklin voltou pra sua Ilha, mas não tinha ainda um bom patrocínio, que lhe permitisse viver apenas de surf.

“ Eu continuei surfando, só que no Rio não tinha muito investimento, não tinha nenhuma marca... Eu fechei um tempinho com a Cyclone, mas não era nada demais. Depois meus pais tiveram que ir morar na Bahia, e eu fui junto. Eles iam morar em Porto Seguro, mas lá não tem onda, né... Meu pai tinha ouvido falar em Jojó de Olivença, e me levou em Olivença, antes de se mudar, por que achou que lá tinha. Chegando lá tinha altas ondas, uma semana muito boa, as ondas muito perfeitas e eu falei que ia morar lá. Sozinho.(risos). Eles não acreditaram...e eu fiquei morando uns quatro meses sozinho. Minha mãe ficou com muita saudade e veio morar comigo, depois meu pai também. Eu acabei obrigando todo mundo a ir morar em Olivença por causa de mim(risos).”

E por causa do surf.
Deste episódio pode-se destacar duas coisas que são fundamentais para entender Franklin Serpa.

A primeira é o apoio dos pais. Atualmente, a maioria das pessoas que têm filhos priorizam os seus problemas, seu trabalho e esquecem que toda criança é uma usina de potencialidades, e que cabe aos pais permitir que seu filho as desenvolva. Mas não os pais de Franklin.
Sempre acreditando na força do sonho do seu filho, optaram por acreditar em um objetivo maior, que hoje é recompensado nas manobras que Franklin Serpa faz ao redor do mundo e que já puseram seu nome entre os grandes surfistas, mesmo sendo tão novinho.

“O Franklin é um menino muito bom, que sempre correu atrás. A família Serpa acredita muito nele e sempre vai dar todo o apoio.” fala a mãezona Edna Serpa.

Desde cedo vivendo uma rotina de viagens, Franklin não mora com os seus pais, que moram em Búzios e optou por viver na Bahia.

“Saudade a gente tem e muita. Mas tem que pensar no esporte mais que na saudade. Quando você faz o que gosta, a saudade tá ali, mas fica meio de canto... aí o tempo vai passando e quando você vai ver, já era.”

A segunda é a força que o surf tem neste menino e a garra com que ele busca esse sonho. Muitas pessoas não teriam esta coragem de abandonar os pais, com tão pouca idade e ir morar sozinho, só para poder surfar. Algumas pessoas até gostariam, mas não botariam a banca. Não é fácil enfrentar seus pais ou convencê-los de que está fazendo o certo, principalmente durante a adolescência. Mas Franklin tem plena consciência dos seus atos e sabe aonde isso tudo vai te levar.

“Na Bahia eles me chamaram muito rápido para representar a equipe baiana no Brasileiro Amador. Isso já tem uns quatro anos. Eu fechei contrato com a WG e comecei a correr os Brasileiros. No segundo ano fui vice-campeão brasileiro mirim e fui disputar o ISA Games na Califórnia e fiquei em 13º. No outro ano me classifiquei também, agora pela categoria júnior. Corri Maresias, fiz um sétimo, e fiquei correndo os campeonatos, mas nunca fui campeão. Fui duas vezes vice-campeão, uma na mirim e uma... na open ou na júnior, não lembro...”

Ainda não foi campeão, mas com certeza esta estatística vai mudar. E muito em breve. Goofy, com um estilo muito próprio, clássico e agressivo ao mesmo tempo, o surf de Franklin Serpa lembra o surf de Bobby Martinez, a quem ele admira.
Disputando o Nordestino Profissional, ele tenta uma vaga para o Super Surf 2009 e conta como foi este ano que passou.

“Este ano rolaram uns campeonatos maneiros. Fiz umas colocações boas no Nordestino Profissional, estou em terceiro, tentando uma vaga para o Super Surf ainda. Acredito que vá conseguir, tem mais duas etapas, no Ceará... uma de 20 e uma de 30 mil. Eu quero fazer uma boa colocação pra garantir logo. Fiz um bom resultado, um quinto no Brasil Tour, mas tinha que ter passado mais algumas baterias, em outros eventos... que com certeza eu já estaria classificado pro SS, mas não deu. Em Itamambuca eu fiquei em terceiro no campeonato da Oakley e consegui uma vaga pra representar o Brasil no Mundial Oakley Global Challenge, em outubro deste ano, na Indonésia. A cada competição eu aprendo muitas coisas e ganho experiência na forma de competir.”

Franklin foi representar o Brasil, frente às maiores promessas do surf mundial, em Bali, junto com Miguel Pupo e Peterson Crisanto e diz que foi a realização de um sonho.

“Foi animal. Eu pude ir uns 16 dias antes, peguei altas ondas... Depois veio a competição, eu acabei não me dando muito bem, mas Bali é um lugar que eu sonhava em ir surfar, mais até do que Hawaii. Surfei nos melhores picos, Huluwatu, Keramas, Padang... O mar tava bom pra direita no campeonato, meio metrão... Lá é muito bom, é realmente o que você vê nos filmes, aquelas ondas perfeitas quebrando... lá, na sua frente, só depende de você surfar. Fiquei feliz demais com aquelas ondas.”

Bastante compenetrado, Franklin não se deslumbra facilmente. Quem conhece Ilha Grande, sabe quais valores realmente importam. E o que importa para Franklin é o surf.

“Prefiro surfar de frontside. Fico o ano inteiro surfando direitas onde eu moro, eu quase não pego esquerdas. De março a outubro eu quase não surfo esquerdas. Eu moro no backdoor de Ilhéus, e quebra de março a outubro. Espero o verão para pegar as esquerdas, mas quase não dá onda no verão!”

Espelha-se em alguns surfistas que se destacaram não só pela sua grande habilidade e estilo, mas também por atitudes fora da água.

“Admiro muito o Bruno Santos surfando, acredito que é o melhor brasileiro. O cara é muito bom em tubos! E ele tem um caráter... e eu me espelho nele. Aqui no Brasil é um cara que eu gosto muito. Queria muito poder viajar com ele, fazer umas trips, ver ele surfando de perto, como ele faz... e tentar fazer igual. Mas o meu surfista favorito é o Bobby Martinez, ele surfa muito, é goofy também, minha base, e eu gosto muito do surf dele. O Rob Machado também... nossa! É muito bom.”

Uma historia engraçada sobre Franklin é que o Brasil ganhou um surfista mas perdeu um atleta olímpico. Ele conta o por quê.

“Se não fosse o surf eu estaria no atletismo. Minha mãe corria muito, e o meu pai corria também e ela acabou me botando no atletismo em Angra. Se não me engano eu tenho os melhores resultados até hoje (risos)...Mas eu gostava mais do surf que do atletismo e acabei abandonando.”

Como qualquer outro menino, gosta de ficar com seus amigos. Além disso não pode faltar o Counter Strike, e claro, a dupla Orkut e MSN. Coisas da nova geração. Segue também uma rotina de treinamentos, buscando sempre aperfeiçoar o seu estilo.

“Quando eu não estou surfando eu gosto de ficar com meus amigos, galera jovem, todo mundo cabeça, ninguém usa drogas, só esporte. A gente nada, dropa uns morros de areia com pranchinha de sandboard, joga bola, faz muita coisa. Eu nunca gosto de perder, então em qualquer esporte eu faço o máximo para ser o melhor deles... (risos). Toda terça e quinta eu treino com Gabriel Macedo e sábado a gente vai pra Itacaré ou onde eu moro mesmo, vamos surfar. Sempre treino com o Bruno Galini e o Rudá.”

Poucos minutos de convivência com Franklin já revelam quem ele é. Simples e forte, humilde e guerreiro, um menino que traz dentro de si muitas experiências e lembranças boas de infância, que se refletem diretamente na sua vida e no nível do seu surf. Tudo que é feito com amor, é feito da maneira mais correta e tem aquela energia boa de quem sabe que as coisas têm a hora certa de acontecer. E quando se quer realmente, elas acontecem.

Ter ido morar na Ilha Grande mudou a vida de Franklin Serpa. Botou o surf na sua vida e pôs a sua vida na história do surf.

“ Eu estou no surf por que eu gosto muito. Gosto de estar em contato com as ondas. Eu gosto mesmo é de surfar.”


Entrevista concedida à Thaís Mureb, com exclusividade para o Câmera Surf- o Site mais Surf do Brasil.

Agradecimentos a Franklin Serpa por ter cedido fotos de seu Acervo Pessoal.

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